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NECROPOLE ROMANA.~
No subsolo de Entrecampos, no espaço do antigo Mercado Geral de Gados, que a partir de 1961 se transformaria na antiga Feira Popular de Lisboa – definida entre a Avenida da República e a Avenida Cinco de Outubro, com a Avenida das Forças Armadas a norte e a Rua Cordeiro de Sousa a sul – , foram recolhidos indícios da possível existência de uma necrópole romana, provavelmente dos séculos I a III, no decorrer de obras de requalificação do espaço, ocorridas entre 1902 e 1903.
Quando funcionários do município lisboeta procediam então ao arranjo da Avenida da República (à época e desde 1897 denominada Avenida Ressano Garcia), designadamente à remoção de um talude junto ao antigo edifício do Mercado Geral de Gados (traçado por Domingos Parente em 1888 e alterado por Machado Faria e Maia), foram encontradas duas inscrições funerárias da época romana, assim como alguns ossos humanos. A presença deste registo arqueológico sugere ainda que algures nas imediações deveria de existir uma villa ou grande propriedade agrícola, à qual pertenceria esta necrópole. Igualmente podemos deduzir que este espaço também já seria atravessado por uma via ou caminho que seguiria para Norte, eventualmente em direção ao município confinante de Eburobritio (Óbidos).
O espaço que foi ocupado pelo Matadouro Municipal de Entre Camos onde mais tarde fucionou a FEIRA POPULAR de Lisboa.
A primeira epígrafe descoberta, em desenho, na Epigrafia de Lisboa de A. Vieira da Silva
Uma das lápides foi encontrada em posição horizontal, a um metro e meio de profundidade, com a inscrição para baixo pelo que a mesma não foi danificada na ocasião da sua descoberta. A cerca de 2 metros estava um crânio que se desfez mal um trabalhador lhe pegou. Segundo Manoel Joaquim Campos, nesta lápide de 55 cm x 45 cm e com 3 mm de espessura, podia ler-se « D(iis) M (anibus) – LICINA – HELENE – ANN (orum) XL – H(ic) S(ita) E(st)», que A. Vieira da Silva traduziu como: «Aos deuses Manes. Licínia Helena, [falecida aos] 40 anos de idade, está sepultada aqui.»
Dias depois foi encontrada outra lápide com inscrição. Esta segunda epígrafe, também com 3 mm de espessura, mas com dimensões de 108 cm x 51cm (à frente) e 59 cm (atrás), foi lida por A. Vieira da Silva como «[S]aturn[o] [Sacr]um. Bist [onio?] [A ?]vito, An(norum) XXII. [Ju]nia, J (ulii) F(ilia), Tusca, Fratri. [Fel?]iciae, M(arci) F (iliae), Tuscae, Matri.», assim como traduzida por « Monumento sacro a Saturno. Júnia Tusca, filha de Júlio, [erigiu este monumento] ao [seu] irmão Bistónio (?) Avito (?), [falecido aos] 22 anos de idade. [A mesma Júnia Tusca dedicou também o monumento] a [sua] mãe Felícia (?) Tusca, filha de Marco.» O engº Vieira da Silva referiu ainda que Bistónia era uma povoação da antiga Trácia, próxima de Abdera.
Ambas foram entregues em 1903 no Museu Nacional de Arqueologia, criado por Decreto de 20 de dezembro de 1893 como Museu Etnológico Português, por proposta de Leite de Vasconcelos.
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