terça-feira, 15 de dezembro de 2020

CRÓNICA DDE UM DIA DIFERENTE

 ,

reposição.

CRÓNICA DE UM DIA DIFERENTE

...............carta a uma colega de férias


Ontem foi um dia de grande significado para a nossa sala. Que pena não teres estado presente.

Alguns deputados e membros do Governo, em visita às instalações da Companhia, escalaram por alguns minutos o nosso local de trabalho.

Já anteontem tinhamos sido avisados, que deveríamos, no dia seguinte, vir vestidos com "sobriedade e decência". Foram estes os termos empregados pela nossa chefia.Chegou a haver um certo burburinho de reprovação e alguma chama de rebelião:"Essa agora, então querem-nos obrigar a vir de fatinho e saia casaco?, era o que faltava", disse alguém. "Deveríamos é vir todos de bibe" opinaram outros. "Quem tiver a hortaliça no sítio, vem à Pai Adão", ouviu-se na confusão geral.

E o grande dia chegou.

Face à importância do acto, e para ciceronar tão selectas personalidades, foram recrutados a recibo verde, o Antonino Pirilau e a Ana Farpas.

O Pirilau, por causa daquele curso de gueixa que com os dinheiros da CEE, foi tirar ao Japão, a Ana, por via do seu saber estar, e do seu curso de "care team", que há bem pouco dirigiu com tanto êxito.

Ele , de fatinho de veludo-cócó Yves Saint Laurent, ela de modelito tipo "Rainha-mãe-Lady Di", de fartos folhos rocócó, redingotes e godés, de còr mostarda.

Ele, à medida que dirigia o grupo pela sala, ia entremeando com vénias, gestos harmoniosos, genoflexões, flic-flacs, cambalhotas, sermões e missas cantadas, a descrição minuciosa do que iam vendo: "Ali é onde pomos os passageiros em vinha -de- alhos, acolá salgamo-los, aqui tiramos-lhes as tripas, a pele e as unhas, bla bla bla...."

Ligeiramente atrás, a Ana Farpas , segurando fortemente o braço do Bagão Félix, ia destilando o seu veneno :-"Isto aqui , senhor Ministro , é uma cambada de imcompetentes, arrivistas- já- residentes", e ,bandarilhando com o olhar os seus ex-colegas: "Gente sem berço, sem principios, que nunca foi à ópera, nunca assistiu a uma conferência na Gulbenkhian"

Às tantas, destacando-se do grupo, o Paulinho Portas, de casaquinho Armani verde vomitivo, camisinha lilás e gravata rosa-marisco. perguntou: -"E a Teresa, onde está a Teresa?" Na sala fez-se um silêncio compungido. "Ouvi dizer que tem um namorado muito robusto, um passarão, dizem-me", e num arrôbo incontido :-"gostava de lhe morder a envergadura!!!" (suspiros).

A Odete Santos ia grasnando naquele seu fanhoso falajar :"Estamos mas é a ser colonizados pela Argentina" ,enquanto lhe oscilavam as penas do turbante e os colares de missangas de péssimo gosto.

O Durão Barroso, talvez chibado por algum bufo-de-mão, desatou , em tom eleitoraleiro, a gritar a sua indignação:- "Numa Companhia em crise, vamos proibir as borlas para a América do Sul, especialmente para o Brasil" , e numa de nacionalismo-enciumado:- "Contentem-se com gente cá da terra"...


E lá se foi o grupo de cinzentos porta-fóra, esmagado pelas vénias do Pirilau e os arrasos da Farpas

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