segunda-feira, 30 de maio de 2016

PRÉMIO CAMÕES 2016, VAI PARA RADUAN NASSAR

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VAI PARA O BRASIL, PARA O ESCRITOR
BRASILEIRO RADUAN NASSAR


Raduan Nassar é o vencedor do Prémio Camões

É o 28.º autor, e o 12.o brasileiro a receber aquele que é considerado o mais importante prémio literário destinado a autores de língua portuguesa.

O Prémio Camões 2016 foi esta segunda-feira atribuído por unanimidade ao escritor Raduan Nassar, de 80 anos, o 12.º brasileiro a receber aquele que é considerado o mais importante prémio literário destinado a autores de língua portuguesa. O júri sublinhou "a extraordinária qualidade da sua linguagem" e a "força poética da sua prosa".

"Através da ficção, o autor revela, no universo da sua obra, a complexidade das relações humanas em planos dificilmente acessíveis a outros modos do discurso", diz a justificação do júri, acrescentando que "muitas vezes essa revelação é agreste e incómoda, e não é raro que aborde temas considerados tabu". O júri realça ainda "o uso rigoroso de uma linguagem cuja plasticidade se imprime em diferentes registos discursivos verificáveis numa obra que privilegia a densidade acima da extensão".

Com apenas três livros publicados – os romances Lavoura Arcaica (1975) e Um Copo de Cólera (1978) e o livro de contos Menina a Caminho (1994) –, a exiguidade da obra não impede que Raduan Nassar seja há muito considerado pela crítica um dos grandes nomes da literatura brasileira, ao nível de um Guimarães Rosa ou de uma Clarice Lispector.

Se a singularidade de Nassar lhe garantiu desde cedo um círculo de admiradores fiéis, e se os seus romances alcançaram algum sucesso internacional já na primeira metade dos anos 80, quando foram traduzidos para francês e inglês, a popularidade da sua obra aumentou significativamente com a adaptação cinematográfica de Um Copo de Cólera, em 1999, numa realização de Aluizio Abranches, e de Lavoura Arcaica, em 2001, num filme de Luiz Fernando Carvalho.

Em Portugal, Raduan Nassar só começou a ser publicado em 1998, quando Um Copo de Cólera saiu na Relógio D'Água, que logo no ano seguinte editou também Lavoura Arcaica. No ano 2000, a Cotovia publicou Menina a Caminho e outros Contos.

Já este ano, Nassar foi um dos 13 escritores escolhidos para a longlist do MAN Booker International Prize, com a tradução ingelsa de Um Copo de Cólera, mas não chegou à lista de seis finalistas, que incluiu o angolano José Eduardo Aguausa.

Nassar é conhecido pela extrema raridade das suas aparições públicas, o que veio conferir um peso particular à sua presença, junto de Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto em Brasília, a 31 de Março, no âmbito de um Encontro com Artistas e Intelectuais em Defesa da Democracia. "Os que tentam promover a saída de Dilma arrogam-se hoje, sem pudor, como detentores da ética mas serão execrados amanhã", afirmou então o escritor, citado pela Folha de S. Paulo. Embora o reconhecimento da qualidade do autor seja francamente consensual, esta sua recente intervenção vem também dar à sua escolha para o prémio Camões deste ano uma inevitável dimensão política.

Com um valor pecuniário de cem mil euros, o prémio foi anunciado ao fim da tarde no Hotel Tivoli pelo secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, após a reunião do júri, que este ano incluiu a professora e ensaísta Paula Morão e o poeta e colunista Pedro Mexia, os professores universitários, críticos e escritores brasileiros Flora Süssekind e Sérgio Alcides do Amaral, e ainda o autor moçambicano Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica de Maputo, e a ensaísta são-tomense Inocência Mata, actualmente radicada em Macau.

Instituído em 1988 pelos governos de Portugal e do Brasil, o prémio Camões é atribuído a “um autor de língua portuguesa que tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum”, diz o respectivo protocolo, na sua versão revista de 1999. O acordo obriga a que o prémio seja alternadamente atribuído em território português e brasileiro, e a sua história sugere que tem também prevalecido a intenção de equilibrar o número de vencedores portugueses e brasileiros, bem como a preocupação de fazer representar as várias literaturas africanas.

Antes do prémio agora atribuído a Nassar, Portugal e Brasil estavam empatados com 11 autores de cada país. Miguel Torga foi o primeiro escritor a receber o Camões, em 1989, e o prémio voltou a ficar em Portugal mais dez vezes: Vergílio Ferreira recebeu-o em 1992, José Saramago em 1995, Eduardo Lourenço em 1996, Sophia de Mello Breyner Andresen em 1999, Eugénio de Andrade em 2001, Maria Velho da Costa em 2002, Agustina Bessa-Luís em 2004, António Lobo Antunes em 2007, Manuel António Pina em 2011 e Hélia Correia em 2015.

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