segunda-feira, 23 de outubro de 2017

ESTADO EVANGÁLICO NO BRASIL?

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OS EVANGELISCOS TEM VINDO AO
LONGO DOS ULTIMOS 20 ANOS A
TECER UMA TEIA QUE PRETENDE
TRANSFORMAR O BRASIL NUM
ESTADO TEOCRÁTICO EVANGÉLICO?


Descobri este texto na net que alerta para esse perigo.

~"Nesse texto, pretendo expor de forma introdutória como há uma ameaça real e já em curso de formação de um Estado Teocrático no Brasil em que o executivo, legislativo e o judiciário (a nível municipal, estadual e federal) ficariam sob controle de pastores ou membros de igrejas evangélicas e que suas decisões seriam fundamentas a partir de uma lógica religiosa e submetidas às diretrizes de suas respectivas igrejas. O texto se subdivide em:
1.“A Intenção”, onde demonstro que os evangélicos (particularmente a Igreja Universal) têm um plano de tomada de poder com tendência antidemocrática;
2.“Os Meios”, que expõe as ferramentas que esses grupos religiosos dispõem para a tomada desse poder;
3.“As Estratégias” para isso, focando na dimensão política apenas.



Antes de expor a análise, é necessário esclarecer que por se falar em “evangélico” aqui se entende principalmente denominações pentecostais (como a Assembleia de Deus) e neopentecostais (Universal do Edir Macedo, Mundial do Valdemiro Santiago etc.). Evangélicos de missão (ou históricos) como luteranos, presbiterianos, entre outros são relativamente distintos em termos de doutrinas, perfil sociocultural e relação com a política quando comparados com neo/pentecostais (embora tenha ocorrido uma “pentecostalização” dessas denominações nas últimas décadas. Nota-se isso principalmente entre batistas).

A INTENÇÃO

Começamos a exposição pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), do Edir Macedo, porque ela é a principal personagem dessa história. É a que tem as intenções mais claras de tomada de poder, é uma das mais organizadas politicamente (a que iniciou uma atuação evangélica mais estruturada na década de 1990), com maior poder econômico e midiático, além de ser o grupo neopentecostal com mais fiéis no país.

Em 2008, Edir Macedo (em coautoria com Carlos Oliveira) publicou o livro “Plano de poder – Deus, os cristãos e a política”. No livro, Macedo afirma que Deus tem um plano político para os fiéis da IURD e para os evangélicos que sejam seus aliados: governar o Brasil.

Macedo diz que a “obra não se propõe à incitação de um regime teocrático. Até porque o Estado brasileiro é laico e a liberdade de crença é assegurada constitucionalmente”. Porém, nesses últimos quase 10 anos desde a publicação do livro, o que não falta são exemplos de violações à laicidade do Estado por parte de políticos evangélicos e, entre eles, de políticos ligados à Universal. Da mesma forma, a liberdade de crença assegurada constitucionalmente parece não existir nos discursos e ações de pastores da Universal quando se trata de religiões afro-brasileiras, de espíritas, ateus etc. Portanto, esta afirmação de Macedo não condiz com a realidade e é de esperar que a obra é sim uma incitação a um regime teocrático.

Além disso, na própria obra há diversos trechos que deixam isso claro. Macedo afirma que os cristãos devem participar do “projeto de nação idealizado por Deus para o Seu povo”. “[A Bíblia] não se restringe apenas à orientação da fé religiosa, mas também é um livro que sugere resistência, tomada e estabelecimento do poder político ou de governo […]”. Usando de um discurso maniqueísta bastante comum no meio neopentecostal (quem não está conosco está com o diabo), Macedo diz que “Existem os agentes do mal, que são aqueles que fazem oposição acirrada em vários sentidos — inclusive, ou principalmente, na política — aos representantes do bem”. Também afirma que “A potencialidade numérica dos evangélicos como eleitores pode decidir qualquer pleito eletivo, tanto no Legislativo, quanto no Executivo, em qualquer que seja o escalão, municipal, estadual ou federal”.

Quanto a outras denominações evangélicas, mesmo que não tenham – pelo menos, não de forma tão clara e organizada – um plano de poder como o da Universal, não escondem a intenção de estabelecerem uma nação regida pela moral cristã evangélica. Contudo, como essas outras igrejas (principalmente a Assembleia de Deus, maior denominação evangélica do país) tomam a Universal como modelo político a ser seguido, não é de se estranhar que outras denominações ou lideranças façam algo semelhante no futuro.

Algumas fontes dessa seção: 1, 2, 3.


Algo próximo a isso foi o artigo de opinião – publicado na Folha de São Paulo, em 2014 – intitulado “Antes pedintes, hoje negociadores”, do pastor Robson Rodovalho, fundador da Igreja Sara Nossa Terra e ex-deputado federal. Falando em nome dos evangélicos de forma geral e fazendo referência à candidatura à presidência do Pastor Everaldo, mas também como intenção futura dos evangélicos na política, ele menciona a “clara mudança de posição do segmento evangélico como ‘player’ do jogo político”, possuindo, agora, influência e controle para dar as cartas, definir as regras do jogo.


Uma última coisa a se mencionar é que essa intenção de domínio dos evangélicos num caráter antidemocrático, que vise impor a moral cristã ao Brasil está além de textos panfletários. Essa intenção está visível numa dimensão mais popular e abrangente, já inculcada na mentalidade dos fiéis e que pode ser melhor entendida a partir de uma expressão comum no universo evangélico: “O Brasil é do Senhor Jesus Cristo” (e suas variantes “tal cidade/estado é do Senhor Jesus”, “Feliz é a nação cujo o Deus é o Senhor”, sendo esta última um salmo). Essa expressão de “posse” de um território a determinada divindade e, consequentemente, a determinada religião, se sustenta, em parte, em uma característica inerente ao cristianismo e que tem sido uma das principais motivações para quase toda investida teocrática na história: o imperativo de converter todos ao cristianismo.

Assim, vemos tal expressão ser dita por lideranças, como Silas Malafaia, nesse twitter, nesse, ou nesse vídeo do Instagram.

No banner do Twitter do Marco Feliciano.

Há até um ministério evangélico que traz esse termo: Ministério o Brasil é de Jesus.

Há também o caso das várias placas, totens, outdoors espalhados pelo país e que já geraram muita polêmica e disputa judicial. Por exemplo, em 2006, a prefeitura de Sorocaba instalou um totem com esses dizeres na entrada da cidade a pedido do então vereador e pastor Carlos Cézar da Silva, da Igreja do Evangelho Quadrangular.

Outro exemplo, na cidade de Leme/SP.

Já teve até prefeito que publicou decreto entregando a “chave da cidade ao Senhor Jesus Cristo”.

Até na música essa ideia está visível. O termo “O Brasil é do Senhor Jesus” intitula a canção de dois artistas gospel populares, Mattos Nascimento e a banda Voz da Verdade. Por sua vez, do músico Sérgio Pessoa, há “Desta Cidade Jesus Cristo é o Senhor”. Na canção de Mattos Nascimento, ele diz querer “Ver o presidente, o governador Se curvando à Deus, o nosso senhor”. Na da Voz da Verdade, é dito que “Jesus comanda este país de terra e mar” e proclama “Jesus Cristo na nossa bandeira”.

OS MEIOS

Os meios, as ferramentas para a instalação de uma teocracia evangélica no Brasil partem, particularmente, dos vastos poderes religioso, político, econômico e midiático dessas denominações.
◾Poder religioso / abrangência demográfica

Segundo o censo de 2010, 22,2% da população brasileira se declara evangélica. Um censo mais recente do Datafolha, de 2013, mostra que esse número já cresceu para 29%, sendo que 22% são neo/pentecostais. Portanto, há cerca 60 milhões de neo/pentecostais no Brasil.

Análises do perfil socioeconômico também mostram que estes milhões se encontram nas camadas mais pobres e menos escolarizadas do país, geralmente em contextos em que o poder público está totalmente ausente de suas vizinhanças e vidas. Somando-se a isso o fato de que uma estratégia de conversão comum no universo neo/pentecostal é atrair pessoas em situações de crise emocional, financeira, de saúde etc., o evangélico típico é um indivíduo de perfil manipulável e mais propenso a ser radicalizado. E considerando a participação política desses indivíduos, sabe-se que “eleitores evangélicos votam em seus pares, seus irmãos e pastores”.

Portanto, dezenas de milhões de brasileiros abertos à manipulação e radicalização prontos para votarem e apoiarem o que seus pastores sugerirem.
◾Poder econômico

Não é necessário se estender muito aqui, o poder econômico dessas igrejas é bem reconhecido. As principais lideranças religiosas neo/pentecostais são milionários e bilionários. Talvez, o que deixe mais claro, de forma sucinta, a dimensão desse poder é justamente o valor das riquezas das principais lideranças evangélicas do país divulgadas pela Forbes.

Vale ressaltar que Edir Macedo, por meio do grupo Record, também é dono de 49% de um banco, o Banco Renner.
◾Poder midiático

Mais uma vez, essa é outra dimensão de poder dessas igrejas bastante conhecida para qualquer brasileiro. E, também aqui, é a Universal que se destaca. Ela é dona da Rede Record, a segunda maior emissora no Brasil; o canal de notícias Record News; o jornal Folha Universal (circulação de mais de 2,5 milhões); a Rádio Record de São Paulo (que comanda um pool de outras 30 emissoras de rádio), a Rede Aleluia que possui 68 emissoras próprias; selos musicais. A Igreja Internacional da Graça de Deus, de R.R. Soares, ocupa o horário nobre da rede Bandeirantes, todas as noites, e conta também com uma concessão de televisão, a RIT (Rede Internacional de Televisão), que conta com 8 emissoras e mais de 170 retransmissoras. A Igreja Mundial do Poder de Deus, de Valdemiro Santiago, é dona da emissora Rede Mundial. A Igreja Apostólica Renascer em Cristo, de Estevan e Sônia Hernandes, opera várias emissoras de rádio em São Paulo e um canal de televisão, a Rede Gospel. Seria possível mencionar muitas outras igrejas, mas ficaremos apenas nessas.

Porém, a influência midiática das lideranças evangélicas tem ido além das tradicionais rádio e TV. Silas Malafaia, do ministério Vitória em Cristo, ligado à Assembleia de Deus, por exemplo, possui mais de 1 milhão e 300 mil seguidores no Twitter, além de 300 mil seguidores em seu canal no YouTube. Marco Feliciano, também ligado à Assembleia, tem meio milhão de seguidores no Twitter.

Fonte: 1
◾Poder político

Os evangélicos adentram a política nos anos 1980 e, desde então, só crescem em números e influência. Nos governos do PT, eles passam a ganhar papel de destaque nacionalmente e, no governo Temer, uma República Evangélica começa a ganhar seus contornos.

A força desse grupo se encontra particularmente no legislativo (municipal, estadual e federal), contudo, a tomada de cargos do executivo está em ascensão e é uma de suas estratégias políticas recentes, como será visto adiante. Em nível federal, a representação legislativa mais evidente deste grupo é a Frente Parlamentar Evangélica, conhecida popularmente como Bancada Evangélica. São 198 deputados e 4 senadores¹. Portanto, quase 40% dos deputados federais no Brasil pertencem à bancada Evangélica.

Lista de alguns prefeitos evangélicos mais significantes: Marcelo Crivella (Rio de Janeiro/RJ), Anderson Ferreira (Jaboatão dos Guararapes/PE), Dr. João (São João do Meriti/RJ), Edinho Araújo (São José do Rio Preto/SP), Fabiano Horta (Maricá/RJ), Marquinho Mendes (Cabo Frio/RJ), Max Filho (Vila Velha/ES), Washington Reis (Duque de Caxias/RJ).

Ministros da República evangélicos: Ronaldo Nogueira de Oliveira (M. do Trabalho), Marcos Antônio Pereira (M. da Indústria, Comércio Exterior e Serviços), homem de confiança de Edir Macedo. Vale ressaltar que a Secretária de Políticas para as Mulheres, órgão subordinado ao Ministério da Justiça, é uma Evangélica, a Fátima Pelaes (ela já disse que, por conta de suas convicções religiosas, é contra o aborto mesmo em casos de estupro).

Em termos partidários, destaca-se o Partido Republicano Brasileiro (PRB), porque ele é o braço político da Igreja Universal. O Ministro Marcos Pereira e o prefeito Crivella são desse partido. No entanto, a Assembleia de Deus (ou, pelo menos, algumas alas dessa denominação com muitas ramificações) também pretende criar seu partido, o Partido Republicano Cristão (PRC), que já tem mais de 300 mil assinaturas coletadas e pretende concorrer já às eleições 2018. O coordenador político da convenção das Assembleias de Deus, pastor Lélis Marinhos, diz que a principal bandeira da nova sigla será a família, “Aquela chamada tradicional, com o princípio básico bíblico da família hétero”.

¹ Alguns desses parlamentares renunciaram por terem sido eleitos prefeitos em 2016 ou estão afastados para exercerem cargos públicos. Há parlamentares que não são evangélicos, mas católicos. Há também aqueles que apesar do apoio de igrejas evangélicas, não são vinculados a elas.

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